Pai
Antônio foi o primeiro preto-velho a se manifestar na Religião de
Umbanda em seu médium Zélio Fernandino de Morais onde se estabeleceu a
Tenda Nossa Senhora da Piedade. Assim, ele abriu esta "linha" para
nossa religião, introduzindo o uso do cachimbo, guias e o culto aos
Orixás.
O
"Preto-velho" está ligado à cultura religiosa Afro Brasileira em geral e
à Umbanda de forma específica, pois dentro da Religião Umbandista este
termo identifica um dos elementos formadores de sua liturgia,
representa uma "linha de trabalho", uma "falange de espíritos", todo um
grupo de mentores espirituais que se apresentam como negros anciões,
ex-escravos, conhecedores dos Orixás Africanos.
São
trabalhadores da espiritualidade, com características próprias e
coletivas, que valorizam o grupo em detrimento do ego pessoal, ou seja,
são simplesmente pretos e pretas velhas com Pai João e Vó Maria, por
exemplo.
Milhares
de Pais João e de Avós Maria, o que mostra um trabalho
despersonalizado do elemento individual valorizando o elemento coletivo
identificado pelo termo genérico "preto-velho". Muitos até dizem "nem
tão preto e nem tão velho" ainda assim "preto velho fulano de tal". A
falta de informação é a mãe do preconceito, e, no caso do "preto-velho",
muitos que são leigos da cultura religiosa Umbandista ou de origem
africana desconhecem valor do "preto-velho" dentro das mesmas.
Preto
é Cor e Negro é Raça, logo o termo "preto-velho" torna-se
característico e com sentido apenas dentro de um contexto, já que fora
de tal contexto o termo de uso amplo e irrestrito seria "Negro Velho",
"Negro Ancião" ou ainda "Negro de idade avançada" para identificar o
homem da raça negra que encontra-se já na "terceira idade" (a melhor
idade). Por conta disso alguns sentem-se desconfortáveis em utilizar um
termo que à primeira vista pode parecer desrespeitoso ao citar um amável
senhor negro, já com suas madeixas brancas, cachimbo e sorriso fácil,
por trás do olhar de homem sofrido, que na humildade da subjugação
forçada e escrava encontrou a liberdade do espírito sobre a alma,
através da sabedoria vinda da Mãe África, na figura de nossos Orixás,
vindo ao encontro da imagem e resignação de nosso senhor Jesus Cristo.
Alguns
preferem chamá-los apenas de "Pais Velhos" o que é bonito ao ressaltar a
paternidade, mas ao mesmo tempo oculta a raça que no caso é motivo de
orgulho. São eles que souberam passar por uma vida de escravidão com
honra e nobreza de caráter, mais um motivo de orgulho em se auto-afirmar
"nêgo véio" e ex-escravo; talvez assim se mantenham para que nunca nos
esqueçamos que em qualquer situação temos ainda oportunidade de evoluir.
Quanto mais adversa maior a oportunidade de dar o testemunho de nossa
fé.
O
"preto-velho" é um ícone da Umbanda, resumindo em si boa parte da
filosofia umbandista. Assim, os espíritos desencarnados de ex-escravos
se identificam e muitos outros que não foram escravos, nesta condição,
assim se apresentam também em homenagem a eles, por tê-los como Mestres
no astral.
No
imaginário popular, por falta de informação ou por má fé de alguns
formadores de opinião, a imagem do "preto-velho" pode estar associada
por alguns a uma visão preconceituosa, há ainda os que se assustam " com
estas coisas" pois não sabem que a Umbanda é uma religião e como tal
tem a única proposta de nos religar a Deus, manifestando o espírito para
a caridade e desenvolvendo o sentimento de amor ao próximo. Não existe
uma Umbanda "boa" e uma Umbanda "ruim", existe sim única e
exclusivamente uma única Umbanda que faz o bem, caso contrário não é
Umbanda e assim é com os "Preto-velhos", todos fazem o bem sem olhar a
quem, caso contrário não é de fato um "preto-velho", pode ser alguém
disfarçado de "velho-negro", o "preto velho" trabalha única e
exclusivamente para a caridade espiritual.
São
espíritos que se apresentam desta forma e que sabem que em essência
não temos raça nem cor, a cada encarnação, temos uma experiência
diferente. Os pretos velhos trazem consigo o "mistério ancião", pois não
basta ter a forma de um velho, antes, precisam ser espíritos
amadurecidos e reconhecidos como irmãos mais velhos na senda evolutiva.
Quanto
menos valor se dá a forma, mais valor se dá à mensagem, e "preto-velho"
fala devagar, bem baixinho; quando assim se pronuncia, todos se
aquietam para ouví-lo, parece-nos ouvir na língua Yorubá a palavra
"Atotô", saudação a Obaluayê que quer dizer exatamente isso: "silêncio".
Nas
culturas antigas o "velho" era sempre respeitado e ouvido como fonte
viva do conhecimento ancestral. Hoje ainda vemos este costume nas
culturas indígenas e ciganas. Algumas tradições religiosas mantêm esta
postura frente o sacerdote mais velho, trata-se de uma herança cultural
religiosa tão antiga quanto nossa memória ou nossa história pode ir
buscar, tão antigos também são alguns dos pretos velhos que se
manifestam na Umbanda.
Muitos
já estão fora do ciclo reencarnacionista, estão libertos do karma, já
desvendaram o manto da ilusão da carne que nos cobre com paixões e
apegos que inexoravelmente ficarão para trás no caminho evolutivo.
Por
tudo isso e muito mais, no dia 13 de Maio, dia da libertação dos
escravos eu os saúdo: "Salve os Pretos Velhos! Salve as Pretas Velhas!
Adorei as Almas! Salve nosso Amado Pai Obaluayê, Atotô meu Pai! Salve
nossa Amada Mãe Nanã Buroquê, Saluba Nana!"
Usamos para eles velas brancas ou bicolores, metade preta e metade branca, tomam café e fumam cachimbo.
Fonte: Alexandre Cumino - Jornal de Umbanda Sagrada, impresso, do mês de maio de 2006.
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